Rosa sem espinhos ou com espinhos
Vivo numa casa que não é minha, mas sim da minha sogra e seus filhos onde se inclui a minha esposa. Por motivos familiares vi-me na obrigação de mudar-me para cá faz uns 23 anos. Acontece que é uma moradia relativamente grande e com um quintal razoável.
Eu, menino da cidade, criado pela mãe e com a ausência do pai, não criei aptidão para viver uma vida em que teria de cuidar de uma casa grande e o seu quintal. Por isso a minha esposa está entregue às flores e plantas enquanto eu tenho a tarefa de arrancar as ervas e varrer o chão do corredor.
A minha esposa, por gosto e talvez um pouco por falta de tempo, deixa a meu ver, crescer as rosas que estão no canteiro um pouco a mais do que devia. As rosas, como é do conhecimento geral, são acompanhadas de espinhos e por vezes podem deixar marcas.
Como grande apreciador de rosas que sou, desde sempre, as encarava como uma das flores ideais para a oferecer a alguém. Mas, como antigamente as comprava na florista, os espinhos eram cortados na loja. Hoje, quando entro em casa e passo pelo quintal, por vezes com falta de cuidado deixo prender a roupa. Isso para não falar nos espinhos na mão.
Como rabugento que sou, queixo-me à minha esposa que o quintal dá muito trabalho e que sou um menino da cidade e tal… Mas o que acontece e estou consciente disso, é que a minha falta de vontade leva-me a esquecer o quão linda pode ser uma rosa.
Quando estou nos dias em que penso que devia estar mais tempo em contacto com a natureza, reconheço que essa é uma das vias mais saudáveis para ser feliz. Afinal a simplicidade de um botão de rosa não serve só para ficar bem na fotografia. Serve para receber o cuidado merecido e também assim alegrar o coração da minha esposa.
Para mim uma rosa com espinhos tem mais significado do que uma sem eles.
Cumprimentos.